Mitologia e Comicidade
A Divina Farsa sucede Ordinários (como espetáculo de sala). A peça anterior, que também estreou, em 2018, no Itaú Cultural, tratava da Guerra a partir da história de três soldados que, depois de uma longa e angustiante espera, enfim recebem uma missão. Ao avançar para o território inimigo, no entanto, percebem que escondem segredos uns dos outros e que são inadequados para a guerra. O que não deixa de ser emblemático, já que quando estreou o Bolsonaro tinha acabado de assumir.
Já A Divina Farsa trata da retomada da esperança e da vitória do coletivo, de sair de um mundo cheio de problemas, machucado, para a reconstrução. É uma peça mais leve, mais solar, mais humorada e mais coletiva no que diz respeito ao processo de construção do texto e da cena. Todos trazem provocações, fazendo da peça uma construção coletiva e conjunta.
A encenação procura, de um jeito muito bem humorado, tratar de algo sagrado – no caso os mitos gregos – fazendo um registro historiográfico, a partir de um conceito cênico.
No processo, a diretora e os dramaturgos mantiveram o aspecto crítico embutido na comicidade do LaMínima. Por isso, partiu-se da concepção apresentada pela companhia, e foram feitos tratamentos, inserções, reescritas, colaborações e mudanças, trazendo diversas vozes – inclusive dos atores e atrizes que compõem a peça (e seus modos de pensar e de fazer arte).
E o LaMínima ganhou novas parceiras. Estão em cena três atrizes – Marina Esteves, Mônica Augusto e Rebeca Jamir – de origens e especialidades diferentes, que trazem outros pontos de vista, outras maneiras de fazer e outros contextos e experiências, enriquecendo o fazer teatral, com números de dança, música e performance. A presença em cena das artistas traz mais feminilidade aos movimentos, menos luta, mais poesia, dança, show e festa.
Desenhando a ação
Em sala, será distribuído o programa da peça com ilustrações exclusivas feitas pela cartunista Laerte.
O LaMínima possui uma parceria com a Laerte tanto em trabalhos de criação artística e estética de comunicação: Luna Parke, Piratas do Tietê – o Filme e A Noite dos Palhaços Mudos. Além das montagens, a cartunista foi responsável por traduzir em tirinhas e comunicação visual o espetáculo Athletis, de 2011 e a programação da mostra “LaMínima ao Máximo” do Sesc Pompeia, em 2013.
Trajetória
O LaMínima nasceu no circo e se criou na rua. A base de sua pesquisa é o palhaço de picadeiro, que absorve as primeiras experiências dos palhaços da companhia. Ainda em 1997 fizeram as “rodas” realizadas em parques e praças da cidade de São Paulo, remuneradas “pelo chapéu”. A rua é onde a companhia reencontra suas origens e seu público.
Domingos Montagner e Fernando Sampaio conheceram-se no Circo Escola Picadeiro em São Paulo, onde iniciaram a dupla de palhaços. Ali criaram e levaram às ruas, reprises, entradas e outros números circenses, desenvolvidos sob a orientação do Mestre Roger Avanzi, o Palhaço Picolino. Em 1997, criaram o Grupo LaMínima, com a estreia do espetáculo LaMínima Cia. de Ballet, baseado no humor físico e nas clássicas paródias acrobáticas. Desde então, foram dezenas de criações e milhares de apresentações.
No ano de 2016, a dupla de palhaços Agenor e Padoca não existiria mais. Domingos Montagner saiu de cena, mas o legado do LaMínima e a trajetória de seus espetáculos continuam.
A Divina Farsa fecha um ciclo de comemorações dos 25 anos do LaMínima. Entre as dezenas de ações, entre elas: Oficinas de Formação; apresentações de espetáculos nas ruas e em diferentes lugares e formatos; e a publicação inédita com ilustrações da Laerte Especial 25 anos do La Mínima (distribuída nas sessões). A programação completa está nas redes sociais da Companhia e no site www.laminima.com.br/.
Ao longo desses 25 anos, a LaMínima produziu 16 espetáculos, se apresentando em todo o país e conquistando diversos prêmios, como o Prêmio Shell de Teatro, APCA, Prêmio Governador do Estado para a Cultura. As obras são inspiradas em manifestações populares de comunicação e cultura que podem ser desde literatura clássica ou arte medieval, quadrinhos ou programas de rádio.